sábado, 12 de janeiro de 2013

PROBLEMAS TERRITÓRIAIS BORORO E XAVANTE

Aos 19 de agosto de 2012, um jovem Bororo enviou-me algumas notícias muito desagradáveis entre Bororo e Xavante no que tange o Reserva Indígena Meruri. Irei começar este ano de 2013 com este fato muito desagradável, onde até o momento as autoridades competentes, a FUNAI, o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, o MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL e a SUPERINTENDÊNCIA DE ASSUNTOS INDÍGENAS - SAI que fica na vicegovernadoria de Mato Grosso não deram a devida atenção a este caso que vem ocorrendo já a algum tempo e que a cada vez mais fica tenso e complicado.
O fato que aqui publico aconteceu na Reserva Indígena Meruri, terras originárias do Povo Bororo.
O Povo Bororo esteve 50 anos em guerra direta com a frente colonizadora invasora de suas terras e agora terá que conviver com mais este pesadelo?
Não publicarei o seu nome por motivo de segurança, já que um dos professores da Aldeia Meruri sofreu ameaça de morte por parte de um indivíduo do Povo Xavante, em outro episódio.
Abaixo o relato na íntegra.


Bom dia Félix!

Akiwaripore? Woe, boe pemega jekodu kare. Awu kaiamodoge, Guadalupe kejewuge, ero pegare woe. Ere joru tugu toro Lageadinho boeto keje. Du kodire, cegodure toro paerduwo inoba ure. Cegodure toro caminhão F-4000 tabo, cere 10 nuwu Ford aogeje. Cedaregodure toro, ceerdure rugadu. Cemagore, mare cerugodukare, cemagore ei etuwo, ekaiagu joru tugu pugeje, ekaiagu barege ewido juru tabo pugeje. Etaregodure nono, emagokare boei, cegimejeragei, ekare boe, cegimejerage eerduwado.
Cá, imagowo brae ewadaru tabo!
Então, quando chegamos ao acampamento dos kaiamo lá no lageadinho, onde antigamente era aldeia, logo eles se sentiram ameaçados e um deles, me parece que era um dos líderes, comandou a turma para que fizessem uma roda e nos colocassem no meio, e mais, estavam armados com bordunas e armas de fogo. Naquele momento só eu estava armado, tinha emprestado a 22. Em seguida apareceu um kaiamo de nome Luciano, dizendo que era o chefe da turma e pertencia à aldeia Guadalupe. De toda a fala dos Boedoge se resumia em que eles se retirassem sem qualquer negociação, mas eles chegaram a argumentar que o "fogo faz bem e era comprovado cientificamente" e diziam que estavam realizando a caçada para a festa da iniciação dos jovens, estas e outras argumentações, mas que na verdade queriam justificar o próprio erro. E assim, ficou acordado que eles se retirariam dali o quanto antes. Alguns dos boedoge levaram câmeras fotográfica e celulares e arquivaram o evento e alguns deles estou lhe enviando neste momento, e digo ainda que algumas fotos já foram postados nas redes sociais pelos jovens daqui.
Na sexta-feira 17/08/2012, chegou aqui na aldeia Meruri, o Raimundo, chefe da aldeia São Marcos, querendo saber o que estava acontecendo, demonstrando indignação perante a nossa atitude tomada no Lageadinho frente ao grupo xavante que ali estavam. E assim, retomamos novamente a nossa postura na reunião realizada no Bai Managejewu e ficou explícito por parte dele, a dificuldade em assumir o erro cometido, e ainda, a falta de respeito para com os boedoge e para com todas as espécies de animais e vegetais do nosso território.
Diante disso, há uma intensa mobilização aqui quanto a esta problemática que veio se arrastando por muito tempo, que amanhã dia 20/08/2012 vai um grupo de boedoge, daqui de Meruri, em conjunto com o cacique José Mário e o CTL Kleiton Rodrigues, aí em Cuiabá para ter com o Ministério Público e fazer os encaminhamentos.
É assim a nossa situação atualmente em relação aos kaiamodoge. A maioria daqui da aldeia, pensa em se armar e preparar para qualquer evento de confronto armado, mesmo que seja o último recurso, pois ninguém quer morrer de graça.
E assim, esperamos e torcemos para que as coisas se resolvam da melhor forma possível.

Fig.: 01. Fogo colocado por indivíduos Xavante no território Bororo, na Reserva Indígena Meruri, General Carneiro - MT.

Fig. 02. Fogo colocado por indivíduos Xavante no território Bororo na Reserva Indígena Meruri, General Carneiro - MT.

Fig.: 03. Fogo colocado por caçadores do Povo Xavante no território Bororo na Reserva Indígena Meruri, General Carneiro - MT.

Fig.: 04. Jovem Xavante armado com arma de fogo no momento da discussão entre Bororo e Xavante na Reserva Indígena Meruri, General Carneiro - MT.

Fig.: 05. Jovem Bororo armado com arma de fogo no momento da discussão entre Bororo e Xavante na Reserva Indígena Meruri, General Carneiro - MT.

Fig.: 06. Vegetação queimada pela prática de caça com fogo do Povo Xavante no território Bororo, Reserva Indígena Meruri, General Carneiro - MT.

Fig.: 07. Momento de discussão entre Bororo e Xavante na Reserva Indígena Meruri, General Carneiro - MT.

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São palavras muito forte de alguém que se sente ameaçado em seu próprio  território e em sua própria casa.
O que fazer?
São vários o encaminhamentos feitos ao Ministério Público Federal ainda no tempo do Dr. Mário Lúcio. A Drª Márcia que assumiu depois de Mário Lúcio já sabe desse grande problema, assim como a Drª Jacira, à FUNAI. Em abril de 2012, foi entregue um documento ao Senhor Adelar, assessor jurídico do CIMI em Lousiânia a ser entregue ao Ministério Público Federal em Brasília, à senhora Doutora Débora Duprat e até o momento, já perto de completar um ano desde que o documento foi entregue ao assessor do CIMI, há apenas o silêncio.

Atualmente, na Aldeia Meruri, não se cria mais gado vacum de subsistência em consequência das queimadas feitas por  indivíduos do Povo Xavante na prática da caça aos animais para rituais deles. Todas as pessoas desistiram dessa prática, já que o fogo queimava áreas verdes que serviam de pastagens e queimavam também os bezerros. Isso sem arrolar que a prática do fogo deixa muitas crianças e mulheres do Povo Bororo desesperançadas pela procura e coleta de frutos silvestres. Uma tristeza para as apreciadoras das frutas do cerrado e da mata.

Obs.: As atuais reservas indígenas São Marcos, município de Barra do Garças - MT e São José Sangradouro, município de General Carneiro - MT não são terras tradicionais, imemoriais e originárias do Povo Xavante, segundo os anciões e anciãs Bororo. Toda essa extensão de terras são terras tradicionais, imemoriais e originárias Bororo, indo até o "Pobo Kurireu" (Grande Água) pela grandiosidade de ter mistérios nele ocultos, o atual Rio das Mortes. O rio São Marcos que passa na reserva de São Marcos é chamado pelo Povo Bororo de "Pó Kaworureu" (Águas Verdes) ou "Pobo Kaworureu" (Rio Verde).