Caríssimo Amauri e demais ex-alunos.
Fazemos parte de um grande projeto a longo prazo. Vocês fazem parte deste mega projeto na construção de um mundo melhor e mais humano para os nossos irmãos bororos mais necessitados e com menores chances de oportunidade.
Como seria bom se os espíritos bororo proporcionassem e permitissem a nós um momento, ainda que fosse o último, um momento de reencontro nosso e relembrarmos também daqueles que já se foram e fizeram parte de nossas vidas.
Desejo tanto de poder olhar nos olhos de cada um de vocês e dizer baixinho:
"Eu confio em você e vamos conseguir libertar-nos."
Libertar-nos da colonização não indígena e de todas as formas de opressão que faz-nos opressores de nossos próprios irmãos, que tornam-nos mesquinhos e sem o espírito da coletividade, dos vícios.
É a mais pura verdade que lhes digo. Tenho acompanhado vocês de longe e desejado silenciosamente que houvesse mudanças. Um exemplo claro disso é a mudança social em relação a bebida alcoólica em Meruri. Contrariando alguns estudiosos que elaboraram artigos sobre o alcoolismo em Meruri e nas aldeias Bororo, alguns jovens já não utilizam a bebida alcoólica, conforme Paulo Freire, grande filósofo na área da educação, houve "libertação". Eu consegui libertar-me também deste vício que assola as nossas comunidades.
Minha sincera admiração por todos e todas vocês pelo Vosso crescimento social e físico, e, ao meu sobrinho Jackson que também se tornou um homem sem os grilhões do álcool. Minha voz treme de felicidade ao falar sobre.
Estamos sendo recompensados pelos nossos próprios esforços.
Que "Bakororo" e "Itubore" movam o universo a favor de vocês, viajantes dos mundos Bororo e não Bororo sob as intempéries sociais e que mesmo assim resistem a colonização do mundo não indígena. "Imago oto pá rogu reo" (Eis o fim de minha singela fala).
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