sexta-feira, 1 de agosto de 2014

"Toro Ekureu" e/ou "Toro kigadureu" ritual funerário Bororo

É momento de luto pela morte de um ancião bororo na Aldeia Garças José Carlos Meriri Ekureu (Metal Amarelo - ouro), mais conhecido por "Kogure" (Formiga carregadeira).
Seu falecimento veio a ocorrer aos 20 de junho de 2014, 6ª feira por motivo de doença.

Socializo o ritual Bororo denominado "Toro Ekureu" (Tanga Amarela) e/ou "Toro Kigadureu" (Tanga Branca). 
É um dos rituais que acontece no ciclo funerário Bororo e que está acontecendo na Aldeia Garças que fica na Reserva Indígena Meruri, município de General Carneiro - MT. Conheci outrora esta aldeia com o nome de "Jakoreuge Eiao Bororo" (Aldeia do Lugar dos Bôtos). Isso devido ter no Rio Garças, grande quantidade deste mamífero, parente do golfinho. Esta aldeia Bororo fica perto do Rio Garças que deságua no Rio Araguaia na cidade Barra do Garças - MT. Na última visita que fiz no ano de 2013 ao "Boe Eimejera" desta mesma aldeia, ele disse-me que a aldeia chamava-se "Bacebo Bororo" (Aldeia do Rio Garças). As fotografias foram tiradas por Aílton e enviadas ao meu Gmail pelo professor da Aldeia Meruri, Orestes Santino Rondon Uwororeu.
No "Bororo" está enterrado em seu enterro primário o saudoso ancião "Boe Eimejera" (Chefe Bororo) o qual não posso ficar mencionando o seu nome por já não pertencer a este mundo. "Bororo" é o local situado a oeste do "Bai Managejeu" (Lugar onde se faz as refeições fraternalmente), local de "reencontro de vivos e mortos Bororos", onde acontecem os rituais sagrados deste povo. É o local onde os representantes dos mortos, "Uiadumage" (Representantes do Mortos) saem para celebrar junto com os Bororos vivos, toda a passagem do falecido deste mundo para outro no intuito de elevar o seu "eu" espiritual das coisas terrenas para o alto. Os "Uiadumage" são pessoas vivas de uma metade exogâmica que não a do falecido. A representação é um ofício do homem Bororo. São duas as metades exogâmicas: "Cerae" e/ou "Ecerae" ao norte e "Tugarege" ao sul da aldeia. "Cerae" e/ou "Ecerae" traz o significado de Os Fracos, e, Tugarege, Os Fortes. E mesmo depois de longa data de enfrentamento aos colonizadores europeus e a colonização ser muito forte sobre o Povo Bororo, ainda há a fervente preocupação das metades exogâmicas de forma recíproca explícita nos funerais contemporâneos.
Quanta saudade sinto deste ancião.
Quanta coisa aprendi com ele.
Ainda as suas palavras ecoam em ego, bem ditas: "Temos que usar a escola para levar ensinamentos bororo aos jovens, aqui. Esta é uma aldeia tradicional original com as casas dos clãs...",  referindo-se à Aldeia Garças.
Sinto-me em falta com o mestre. Não cheguei em tempo para vê-lo com vida.
Quanta saudade tenho da Aldeia Garças (mais popularmente conhecido por este nome). Recordo de um tempo em que esta aldeia tinha uma população numerosa e muitos chefes clânicos e muitas "Aroe Etuje" (Mães de Almas).
Fig.: 01. Aldeia Garças pelo Google Maps, editado por Félix Adugoenau.


Fig.: 02. A dança do "Toro Ekureu" e/ou "Toro Kigadureu" em circulo em volta do túmulo, juntamente com os "Uiadumage". As mulheres dançam em posições intercaladas com a posição dos homens.

Fig.: 03. A dança do "Toro Ekureu" e/ou "Toro Kigadureu" em circulo em volta do túmulo.

Fig.: 04. Idem.

Fig.: 05. Idem.

Fig.: 06. Idem.

Fig.: 07. A metade exogâmica "Cerae" e/ou "Ecerae" presta homenagem ao lado do túmulo provisório, em seu território, ao norte.

Fig.: 08. A metade exogâmica "Tugarege" presta homenagem por sua vez, ao lado do túmulo provisório, também em seu território, ao sul.

Fig.: 09. Dança na forma de círculo em volta do túmulo provisório.

Fig.: 10. Idem. No fundo, o "Bai Managejewu".

Fig.: 11. O local da dança ritual no lugar denominado "Bororo", no meio jaz o corpo do mestre, regado todos os dias.


Nenhum comentário:

Postar um comentário