domingo, 2 de dezembro de 2012

CONCURSO PÚBLICO PARA PROFESSORES INDÍGENAS DE MATO GROSSO.

Os lendários guerreiros, 'Boeigare' e os 'Tugoboeigare' do meu povo tinham o seguinte ensinamento: 'manter o jaguar a certa distância e à vista.' Por que? Há um sentido lógico nisso tudo. Não ser surpreendido por um ataque nas sombras. É muito mais fácil estudar e observar o jaguar e seus movimentos do que fazer de conta que ele não existe e que não apresenta nenhum risco, não mantendo-se nem longe e nem perto do mesmo. É tão simples este ensinamento, mas que funciona no atual complexo mundo.
Refletindo a sós e na calada da noite e no escuro meus pensamentos alcançam dimensões não calculada sobre o concurso público para professores indígenas do Estado de Mato Grosso. FÉLIX ADUGOENAU teceu alguns comentários de forma consciente e transitivocrítico na reunião ordinária do Conselho Estadual de Educação Escolar Indígena - CEEEI. Félix Adugoenau sempre pautou nos mínimos cuidados em traçar comentários no que concerne a Educação Escolar para Povos Indígenas. Isso porque a sua ética não permiti falar para um outro povo indígena e/ou em nome de um outro povo indígena. Ele tem a humildade de fazer comentários amparado pela doutrina que recebeu desde criança com luz filosófica na cosmovisão do Povo Bororo. Automaticamente toda a sua ação, suas falas passam pelo crivo filosófico e envergadura do "Ser" Bororo.
"Observando e considerando todas as instâncias e circunstâncias do 1º concurso para professores indígenas do Estado de Mato Grosso com base na legislação federal e estadual e na legislação específica que disciplina o direito a uma educação diferenciada a nível federal e a legislação estadual que disciplina a execução da Educação Escolar Indígena, não restam dúvidas de que nunca acontecerá um concurso público específico para professores indígenas. Uma coisa é disciplinar os direitos a uma escola específica e diferenciada a nível federal. Outra coisa é disciplinar a execução desta escola específica e diferenciada no estado. São dois atos completamente distintos e distantes entre si. Nesse caso temos dois entes federados distintos com dotação orçamentária e organização jurídica própria. Depois de tantos renhidos embates e consequentes derrotas, conscientemente e responsável refletindo no que aconteceu e no que está acontecendo, percebi que enquanto o segmento não lutar para criar uma carreira dos profissionais da educação escolar indígena, tal qual tanto como a LC 50 ampara legalmente a carreira dos profissionais da educação no Estado de Mato Grosso, jamais teremos um concurso público realmente específico e diferenciado. O que se percebe no 1º concurso público para professores indígenas é um arranjo com base de que as crianças indígenas precisam ser alfabetizados na língua materna e necessariamente precisa-se de professor que fale o idioma deste povo, ou seja, cada povo teria que ter os seus professores, sendo elas a razão existencial do professor indígena. Isso é disciplinar os direitos adquiridos dos Povos Indígenas na constituição de 88 no Art. 231, na LDBEN, assim como nas diversas normativas e leis complementares com cuidado às especificidades e ao diferente na esfera federal. Ao termos professores indígenas efetivos para público alvo que fala idioma indígena na rede estadual da educação, tratados com igualdade tanto quanto como o professor não indígena na esfera jurídica da LC 50, é disciplinar a execução desta escola específica e diferenciada. Isso quer dizer que existem direitos e deveres linares tanto para o professor não indígena quanto para o professor indígena, com salários iguais observando classse e nível, ambos passando pelo mesmo crivo das cláusulas desta lei. 
Na conjuntura atual, apenas duas opções se consegue vislumbrar conscientemente:
1ª opção: fazer o concurso para professores indígenas quase do mesmo jeito que aconteceu o 1º concurso;
2ª opção: cancelar o concurso para se organizar e redirecionar consciente e responsável a política da educação escolar indígena se preparando para uma grande e longa batalha pela criação de uma carreira dos profissionais da educação escolar indígena.
Na textura da política da educação escolar indígena e nas políticas gerais do segmento indígena, é mister que acabemos com alguns vícios criados pelas organizações governamentais e não governamentais que atuam junto aos indígenas que fez com que tivéssemos uma leitura quase que errônea do ser indígena e deixemos de romancear e pisar firme no solo que nos ampara para então olharmos de frente o nosso inimigo e oponente.
Fizeram-nos acreditar em tudo, até que poderíamos nos transformar puramente em "branco", menos que pudéssemos decodificar e transitar no mundo não índio sem deixar de ser o que somos, com nossa religião, língua materna e organização própria milenar com readequação para sobrevivência num mundo hostil e capitalista. Até quando na condição de povos distintos vamos resistir? Ainda não sei..."

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